Umas das maiores dúvidas dos iniciantes na arte de garimpar Vintage é como ter certeza que você realmente está comprando um produto original de época e não um produto retrô.
Trabalho com a curadoria do Tatileine Brechó há mais de 10 anos e desenvolvi algumas técnicas para analisar produtos que garimpo.
Presto atenção em vários aspectos da peça como tecido, estampa, aviamentos, acabamentos, costura, etiqueta.
Porém, mesmo com um pouco de prática, às vezes me confundo principalmente no quesito tecido/ estampa, já que hoje existem muitas reproduções de peças vintage.
A maneira mais certeira de identificar um produto vintage, na minha opinião, é analisando as etiquetas ( produtos retrô, por lei, são etiquetados de uma maneira específica, que descrevo no artigo abaixo) e quando não tiver nenhuma, recorro à analise dos acabamentos e costuras.
Para ficar mais fácil, fotografei alguns exemplos para analisar as etiquetas, os acabamentos e as costuras:
PRIMEIRO, AS PEÇAS VINTAGE:
ETIQUETAS FEITAS DE ALGODÃO OU TECIDO BORDADO:
Os primeiros relatos de etiquetas utilizadas na história estão datados em volta de 1880 e foram adotadas por um motivo muito simples, destacar seus produtos no meio de tantos outros vendedores.
Quando pego uma peça, sempre olho o aspecto da etiqueta ( se parece velha, meio amarelada), com qual tecido ela é feita e também o design dela. Presto atenção também no nome que está na etiqueta. As palavras Atelier e Maison eram muito usados nos anos 70 e 80.
ETIQUETAS APENAS COM A COMPOSIÇÃO DO TECIDO:
Falando de história, no Brasil, desde 1973 é implementada a Lei das Etiquetas na área têxtil, abrangendo da fibra até a confecção, com o objetivo de melhor informar o consumidor, bem como garantir uma concorrência leal entre fabricantes.
Na época, o grande ¨boom¨ das fibras químicas causavam dúvidas entre os consumidores sobre o que realmente estavam comprando: era um produto puro ou misto? Havia aquela dona de casa que desejava as facilidades do lençol misto de algodão e poliéster, pela sua rápida secagem e facilidade de passadoria, ou aquele cavalheiro que desejava a casemira de pura lã. Porém nem sempre era possível queimar um fiozinho para saber quais fibras estavam presentes.
A principal exigência de esclarecimento era a composição (terminologia de fibras) de normas que orientavam os produtores e laboratórios para indicarem a composição das fibras, de normas de identificação das fibras e de normas de análise quantitativa das fibras, cujos ensaios detectam os percentuais que compõem o material têxtil.
Então, em produtos industrializados ( não os feitos por costureiras) a partir de 1973, além da etiqueta com a marca, encontraremos uma etiqueta com a composição do tecido.
COSTURAS E ACABAMENTOS FEITOS À MÃO:
Identificar costuras feitas à mão são um grande indicio de esta é uma peça vintage.
Hoje, mesmo quando uma peça é feita numa costureira, são raras as profissionais que fazem os acabamentos à mão, já que a Overloque hoje é mais acessível e resolve de maneira rápida o acabamento principalmente interno das peças. Antigamente, o interior das peças tinha acabamentos feitos à mão principalmente em tecidos que tinham a tendência em desfiar.
Hoje, mesmo quando uma peça é feita numa costureira, são raras as profissionais que fazem os acabamentos à mão, já que a Overloque hoje é mais acessível e resolve de maneira rápida o acabamento principalmente interno das peças. Antigamente, o interior das peças tinha acabamentos feitos à mão principalmente em tecidos que tinham a tendência em desfiar.
ACABAMENTOS FEITOS COM O PONTO ZIGUE -ZAGUE:
Nos anos 60 foi lançado um modelo de máquina caseira com o ponto zigue zague. Ele era muito usado em acabamentos internos, para evitar que o tecido desfie. ( hoje esse trabalho é feito normalmente pela Overloque)
CASAS DE BOTÕES COSTURADAS À MÃO:
Não encontrei a data exata em que foi lançada a primeira máquina doméstica que caseava botões, mas ter em mãos uma peça em que as casas dos botões estão feitas à mão é um grande indício de que tem em mãos uma peça vintage
ZÍPER VINTAGE:
Zíper de metal com cordão em algodão é um grande indício de que a peça é pré anos 70.
O zíper de nylon como conhecemos hoje começou a ser usado em massa a partir de 1971.
AVIAMENTOS COMO COLCHETES E BOTÕES FORRADOS:
Também são indícios de peças vintage
PEÇAS ATUAIS, CONSIDERADAS RETRÔ:
COSTURAS E ACABAMENTOS FEITOS NA OVERLOCK:
Foi muito difícil achar fatos históricos sobre a Overloque para embasar o que observo há anos garimpando.
O ponto Overloque é antigo, datado de 1881, porém era realizado por máquinas muito grandes e não práticas. Em 1947 a empresa dona da patente, Merrow, ampliou a sua distribuição para o mundo inteiro, porém o seu uso se tornou mais popular a partir da década de 1960, quando uma empresa japonesa criou uma nova versão da máquina, mais compacta, que disseminou o uso em confecções pelo mundo.
Pela minha experiência, porém, São raras as peças anteriores à decada de 70 em que encontramos esta costura. O seu uso é mais encontrado em peças a partir dos anos 80.
Somente nos anos 90 que foi lançada a primeira máquina doméstica com esse tipo de costura.
Então encontrar a costura overloque numa peça é indicio de que ela é datada dos anos 80 para frente e motivo para prestar atenção e analisar outros aspectos e não se confundir com uma peça retrô.
COSTURAS MODERNAS COMO GALONEIRA, INTERLOQUE:
Não consegui somente pesquisando na internet ter um ano exato em que estas novas máquinas foram lançadas, mas lendo artigos sobre o assunto, me parece que estas máquinas mais modernas começaram a aparecer no mercado em média há 20 anos atrás, quando se iniciou a chamada Era da Competitividade no mundo empresarial.
ETIQUETAS COM A COMPOSIÇÃO DO TECIDO, MANEIRA DE LAVAR E/ OU CNPJ E NOME DA EMPRESA:
A lei que regulamenta a padronização e produção de etiquetas entrou em vigor em de dezembro de 2001. Nela foi levada em consideração o movimento de produção e o lançamento de coleções do setor têxtil.
Estas etiquetas ficam normalmente nas costuras laterais internas das peças. Se você encontrou uma etiqueta dessa numa peça. sinto muito, mas o seu produto não é vintage.
Gostaria só deixar claro que estes são alguns pontos que observo na curadoria do Tatileine Brechó.
Embora formada em Desenho de Moda, não me considero uma especialista e sim uma apaixonada que está sempre pesquisando e estudando.
Datar, contextualizar e certificar que uma peça é realmente Vintage além de muita prática requer muito estudo, principalmente de História e História da Moda.
Leia, estude e informe-se!
E espero que este artigo te ajude, pelo menos um pouco, nos seus próximos garimpos!
Bibliografia:
http://www.singer.com.br/nossa-historia/
http://www.merrow.com/nhp1.php
https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/846/1/KarlaKRS_Monografia.pdf
http://blog.aartgraf.com.br/?p=39
http://www.etiband.com.br/etiband/a-historia-das-etiquetas/
http://www.vintagevisage.net/Zipper.html
http://visforvintage.net/2012/11/17/vintage-zippers/
TODAS AS FOTOS USADAS NESTE ARTIGO SÃO DE MINHA AUTORIA. AUTORIZO O USO SOMENTE COM O DEVIDO CRÉDITO AO BLOG. OBRIGADA!